quarta-feira, 28 de setembro de 2011

VARGAS FRENTE À ERA DE OURO DO RÁDIO

                                                           
                                                          por Sandra Fernandes e Quelli Ramos






“À radiotelefonia está reservado o papel de interessar a todos por tudo quanto se passa o Brasil”.    
                                                                                                                                            Este trecho foi retirado da mensagem que Getúlio Vargas enviou ao Congresso Nacional em 1º de maio de 1937.

O cenário político brasileiro achava-se abalado e havia também instabilidade popular devido às manifestações comunistas contra o governo de Vargas. Nesse ínterim, foi sem resistência que Getúlio Vargas deu um golpe de Estado e instaurou uma ditadura em 1937 através de um pronunciamento transmitido por rádio a todo o país. Tratava-se de um regime político centralizado e autoritário. Nascia assim, o Estado Novo.






Em seu discurso, Vargas declara à nação brasileira todos os pontos do que seria a política getulista para estes primeiros momentos, enfatizando: “o governo da União procurará entender-se a propósito com os estados e municípios de modo que, mesmo nas pequenas aglomerações, sejam instalados radio receptores providos de alto-falantes em condição de facilitar a todos os brasileiros, sem distinção de sexo ou idade, momentos de educação política e social, informes úteis aos seus negócios e toda sorte de notícias tendentes a entrelaçar os interesses diversos da Nação”.
Trocando em miúdos: nada escapará do controle do governo e por ele será filtrado, organizado e divulgado.







Getúlio Vargas apoiava o rádio como meio de comunicação de massa. Era o veículo de maior alcance, atingindo principalmente a classe operária.  Com isso, utilizou-se do rádio para disseminar o seu projeto de integração nacional, para fazer a divulgação da imagem e dos produtos brasileiros no exterior e, em especial, para se fazer ouvido pelos brasileiros habitantes de todas as regiões.




Aos 28 de agosto de 1941, a Rádio Nacional começa a transmissão do Repórter Esso. 
Jornal de maior credibilidade na época: a população só acreditou que a Segunda Guerra havia acabado quando foi anunciado seu fim por ele. Embora a concorrente Rádio Tupi tivesse "furado" a notícia. 
"Deu no Repórter Esso" - isto bastava para ser verdade.


Vinheta de abertura e manchetes do Repórter Esso






As radionovelas, um dos grandes sucessos do rádio no Brasil e que trouxeram e modificaram valores de nossa sociedade na época, tiveram sua estréia no dia 12 de julho de 1941, às 10:30h da manhã, com "Em busca de felicidade". 
Escrita por Leandro Blanco, escritor cubano e com adaptação de Gilberto Martins.
Seus capítulos ficaram no ar por aproximadamente 3 anos, sendo exibida pela PRE-8, prefixo da RÁDIO NACIONAL do Rio de Janeiro.


 



Inegavelmente Getúlio Vargas foi, senão o Presidente do Brasil de melhor oratória de todos os tempos, certamente um dos melhores. E este talento que era muito bem utilizado por ele, também era reconhecido por ele em suas investidas na procura dos melhores talentos para preencher os horários da Rádio Nacional, encampada pelo Estado Novo em 1940, através do decreto-lei 2.073.
Nesse momento, o rádio vivia sua época de maior evidência e importância e exercia sobre seus ouvintes grande influência.
Mas nada foi tão representativo da era Vargas e de seu poder dentro do rádio como a Hora do Brasil, que iniciava sob a audição da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes.




Entre 10 de novembro de 1937 e 29 de outubro de 1945, o Brasil viveu sob o regime de exceção implantado por Getúlio Vargas.
Só o Executivo funcionou. Lembremos que nesse período aconteceu a Segunda Guerra mundial, de 1939 a 1945. Época de perdas humanas e financeiras.
Época em que Getúlio cria o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), cuja principal função era “centralizar, coordenar, orientar e superintender a propaganda nacional, interna ou externa.”
Também servia permanentemente como elemento auxiliar de informação dos ministérios e entidades públicas e privadas, na parte que interessa à propaganda nacional.
O DIP regulamenta a radiodifusão.



É exatamente neste ponto que a gente perde um pouco o sono e fica com uma leve dor de ouvido. Nada melhor do que usar Auris-sedina para exterminar com esse mal.




Tomada pelo governo como propriedade do Estado, a Rádio Nacional, antes com a função de entreter, agora se tornou o veículo de comunicação oficial do Brasil.
A ideia era a de levar às mais longínquas terras a nossa identidade nacional. Até aí tudo parecia soar maravilhosamente bem e dignamente. Não fosse pela acirrada propaganda política que viria de “bônus”.



A rádio Nacional, sem sombra de dúvida, seria o som da era Vargas.
A pretexto de levar cultura a todos os rincões deste Brasil, todo o discurso, atrações, publicidades, locutores, cantores e atores de talento eram contratados para a Rádio Nacional que se tornou tão popular a ponto de não haver concorrentes.


UM MILHÃO DE MELODIAS


Este é sem dúvida o mais famoso programa musical do rádio brasileiro, patrocinado pela Coca Cola. Estreou no dia 6 de janeiro de 1943 e foi um marco importante no processo de alienação cultural dos brasileiros através da música.
A influência da música norte-americana era restrita ao cinema e mesmo assim para uns poucos iniciados. Com o rádio a coisa era outra. Através de programas como Um milhão de melodias, Aquarelas das Américas e Aquarelas do Mundo, A hora da Broadway, Your Hit Parade, Big Broadcasting Matinal da Exposição e outros que tais, a música norte-americana foi invadindo os lares brasileiros e induzindo a nossa juventude à adoção dos seus ritmos. O programa esteve no ar, inicialmente, durante 7 anos ininterruptos.








Tudo e todos só queriam a Rádio Nacional.
Recebia uma verba do governo para manter o melhor elenco de atores e artistas radiofônicos da época, serviu como instrumento de ação político-social, de cunho propagandístico e de difusão da cultura local.

Foi então a época em que se criaram os grandes fã-clubes, a disputa entre Emilinha Borba e Marlene, por exemplo.

Cauby Peixoto transformado em galã.  


Capas das Revistas do Rádio da época



A nossa política externa tinha fatores auxiliares curiosos como, por exemplo, a nossa “pequena notável”, Carmen Miranda.
Mas, como, céus, como Carmen Miranda pôde ter servido aos ideais getulistas, radicalmente nacionalistas de Vargas?

A pergunta responde a si mesma: nunca antes o Brasil tinha sido tão bem promovido no exterior.
Uma mulher bonita e talentosa, inegável exemplo de desenvolvimento cultural e humano, levava nossas cores e humores ao restante do mundo civilizado.


Não à toa, foi apelidada de “Brazilian Bombshell” – granada explosiva brasileira. Utilizando uma terminologia bélica,  fazendo “piada” com a guerra mundial a que sobreviviam.
Aqui podemos ver trecho em que Carmen canta em inglês um ritmo todo brasileiro, no filme “Uma noite no Rio”.




 




Vargas não dava chance a nada menos que o puro nacionalismo. Mesmo nas menores ou maiores coisas e detalhes.
 Neste cenário de progresso cultural, raízes profundas foram fincadas na memória de nosso povo: Getúlio Vargas, o “pai dos pobres”; o criador da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas); o mais midiático de todos os nossos Presidentes até este momento estava de fato “saindo da vida para entrar na história”, como ele próprio escreveria em sua carta-testamento ao cometer suicídio.






Marchinha de carnaval, usada na campanha de Getúlio para sua volta à presidência. “Bota o retrato do velho”, de Haroldo Lobo e Marino Pinto. Ele, o “velho”, voltou ao poder e seu retrato seria novamente pendurado nas paredes das repartições públicas, como é de costume.




                                                 por Sandra Fernandes e Quelli Ramos

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